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Alimentando a Criança com TEA

EV
Por Equipe Vivências Azuis
12 de setembro de 2025
6 min read
#autismo#nutrição#alimentação#seletividade-alimentar#família#cuidadores#desenvolvimento#saúde

Alimentando a Criança com TEA

A alimentação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) representa um dos principais desafios enfrentados pelas famílias, exigindo uma abordagem especializada e multidisciplinar. Entre 46% e 89% das crianças com TEA apresentam algum grau de seletividade alimentar, condição que pode impactar significativamente o estado nutricional, o crescimento e o desenvolvimento destas crianças.^1

Vídeo Complementar

Para complementar as informações apresentadas neste artigo, recomendamos o seguinte vídeo que aborda estratégias práticas de alimentação para crianças com TEA:

Características Alimentares no TEA

Seletividade Alimentar

A seletividade alimentar é uma das manifestações mais comuns no TEA, caracterizada por recusa alimentar, preferências extremas por determinados alimentos e monotonia alimentar. Esta condição está intrinsecamente ligada às sensibilidades sensoriais que afetam a percepção de texturas, cheiros, sabores, cores e temperatura dos alimentos.^2[^4][^5]

Fatores que influenciam a seletividade alimentar incluem:

  • Aspectos sensoriais: texturas (1º lugar), aparência/cor (2º lugar), sabor (3º lugar), cheiro (4º lugar) e temperatura (5º lugar)^6
  • Necessidade de rotina e previsibilidade: mudanças no prato, marca ou forma de preparo podem gerar desconforto^7
  • Ambientes estimulantes: ruídos e excesso de estímulos podem interferir nas refeições^7
  • Comportamentos repetitivos: utilizados para autorregulação durante as refeições^7

Deficiências Nutricionais Comuns

Crianças com TEA apresentam maior risco de deficiências nutricionais devido aos padrões alimentares restritivos. As deficiências mais frequentemente observadas incluem:^8

Vitaminas: B1 (tiamina), B3, B5, B6 (piridoxina), B9 (ácido fólico), B12 (cobalamina), A, C, D e E^10^12

Minerais: cálcio, ferro, zinco, selênio, magnésio e fósforo^9^10

Outros nutrientes: proteínas, ácidos graxos ômega-3 e fibras alimentares^8

Estas deficiências podem resultar em comprometimento do crescimento e desenvolvimento, maior risco de doenças, problemas ósseos, déficits sociais e baixo desempenho acadêmico.^3

Problemas Gastrointestinais Associados

Estudos indicam que crianças com autismo têm mais de 3,5 vezes mais chances de apresentar problemas gastrointestinais comparadas às neurotípicas. Os sintomas mais comuns incluem:^13

  • Constipação (prisão de ventre)
  • Diarreia
  • Refluxo gastroesofágico
  • Dor abdominal
  • Gases e distensão abdominal
  • Disbiose intestinal^14^13

Estes problemas podem estar relacionados à alimentação pobre em fibras, baixa ingestão de água, sedentarismo ou uso de medicamentos. A síndrome do intestino permeável, caracterizada pelo aumento da permeabilidade intestinal, também é frequentemente associada ao TEA.^14

Estratégias de Intervenção Nutricional

Abordagem Alimentar Natural

A base da alimentação saudável para crianças com TEA deve priorizar:^16

Alimentos recomendados:

  • Frutas e vegetais frescos (2-3 porções diárias)
  • Cereais integrais
  • Leguminosas (feijões)
  • Proteínas magras (peixe, frango, ovos, tofu)
  • Gorduras saudáveis (azeite, oleaginosas)
  • Laticínios (quando tolerados)

Alimentos a evitar:

  • Ultraprocessados ricos em açúcar e aditivos
  • Conservantes, corantes e adoçantes artificiais
  • Pesticidas e organismos geneticamente modificados
  • Glutamato monossódico (MSG)
  • Excesso de açúcar refinado^18

Estratégias Práticas para Pais e Cuidadores

1. Introdução Gradual de Novos Alimentos^4

  • Começar com pequenas porções similares aos alimentos preferidos
  • Aumentar gradualmente a quantidade e diversidade
  • Combinar três alimentos conhecidos com um novo^20
  • Não forçar a ingestão, permitir apenas o contato visual inicial

2. Criação de Ambiente Positivo^4

  • Estabelecer horários fixos para refeições
  • Manter ambiente tranquilo, sem distrações (TV, celular, tablets)
  • Realizar refeições em família quando possível
  • Tornar o momento prazeroso, sem pressões ou punições

3. Envolvimento da Criança^19

  • Incluir a criança no processo de escolha e preparo dos alimentos
  • Permitir que ajude a lavar, cortar ou cozinhar
  • Deixar que escolha utensílios e pratos
  • Incentivar a servir-se sozinha, mesmo que derrame

4. Adaptações Sensoriais^6

  • Variar formas, cores e apresentações dos alimentos
  • Cortar alimentos em formatos divertidos (estrelas, animais)
  • Oferecer diferentes texturas gradualmente
  • Respeitar preferências sensoriais individuais

5. Uso de Reforço Positivo^5

  • Elogiar tentativas de experimentar novos alimentos
  • Evitar usar alimentos favoritos como chantagem
  • Implementar sistemas de recompensa não alimentares
  • Celebrar pequenos progressos

Dietas Especializadas

Dieta sem Glúten e sem Caseína (SGSC)

Esta abordagem envolve a eliminação de glúten (trigo, centeio, cevada) e caseína (leite e derivados). A teoria sugere que a degradação incompleta dessas proteínas produz peptídeos opioides que podem afetar o sistema nervoso central.^21

Benefícios relatados:

  • Melhora na comunicação e linguagem
  • Redução de comportamentos estereotipados
  • Diminuição da hiperatividade
  • Melhora da atenção e concentração^22

Importante: Esta dieta deve ser implementada apenas sob orientação profissional e quando há diagnóstico clínico de intolerância ou alergia.^23

Suplementação Nutricional

Devido às deficiências nutricionais comuns, a suplementação pode ser necessária:^24^12

Suplementos estudados:

  • Probióticos: para restaurar equilíbrio da microbiota intestinal
  • Ômega-3: importante para desenvolvimento e função cerebral
  • Vitaminas do complexo B: especialmente B6, B12 e ácido fólico
  • Vitamina D: associada à redução de irritabilidade e hiperatividade
  • Magnésio: combinado com B6 para melhora da interação social
  • Zinco e ferro: para corrigir deficiências comuns^25^26

Acompanhamento Multidisciplinar

O manejo nutricional do TEA requer uma equipe especializada:^27

  • Nutricionista: avaliação nutricional e elaboração de planos alimentares
  • Médico nutrólogo: prescrição de suplementos quando necessário
  • Terapeuta ocupacional: trabalho com aspectos sensoriais da alimentação
  • Fonoaudiólogo: desenvolvimento de habilidades motoras orais
  • Psicólogo: apoio comportamental e familiar

A Sociedade Brasileira de Pediatria enfatiza a necessidade de acompanhamento individualizado, ressaltando que o tratamento adequado não é a medicalização, mas sim a avaliação de cada paciente em seu contexto específico.^23

Marco Legal

Em 2025, foi aprovado o PL 4262/2020, que garante terapia nutricional gratuita para pessoas com TEA, especificando ações de cuidado e proteção relacionadas à alimentação, realizadas por profissionais qualificados. Este avanço representa um importante marco para assegurar o direito à nutrição adequada para indivíduos com TEA.^28

Considerações Finais

A alimentação de crianças com TEA exige paciência, compreensão e estratégias adaptadas às necessidades individuais. É fundamental compreender que a recusa alimentar não é "birra", mas uma forma de comunicação e proteção da criança. Com intervenções adequadas, apoio profissional e ambiente familiar acolhedor, é possível ampliar a aceitação alimentar e garantir uma nutrição equilibrada, promovendo melhor qualidade de vida e desenvolvimento para crianças com TEA.^27^4

^30^32^34^36^38^40^42^44^46^48^50^52^54^56

[^5]: https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/bitstream/123456789/8373/1/TCC MANUELLA (1).pdf

[^44]: https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/56644/1/ASPECTOS ALIMENTARES E NUTRICIONAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (1).pdf

[^52]: https://educa.campinas.sp.gov.br/sites/educa.campinas.sp.gov.br/files/2023-06/Ebook - Alimentação Infantil e Seletividade Alimentar_1.pdf

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