Alimentando a Criança com TEA
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Alimentando a Criança com TEA
A alimentação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) representa um dos principais desafios enfrentados pelas famílias, exigindo uma abordagem especializada e multidisciplinar. Entre 46% e 89% das crianças com TEA apresentam algum grau de seletividade alimentar, condição que pode impactar significativamente o estado nutricional, o crescimento e o desenvolvimento destas crianças.^1
Vídeo Complementar
Para complementar as informações apresentadas neste artigo, recomendamos o seguinte vídeo que aborda estratégias práticas de alimentação para crianças com TEA:
Características Alimentares no TEA
Seletividade Alimentar
A seletividade alimentar é uma das manifestações mais comuns no TEA, caracterizada por recusa alimentar, preferências extremas por determinados alimentos e monotonia alimentar. Esta condição está intrinsecamente ligada às sensibilidades sensoriais que afetam a percepção de texturas, cheiros, sabores, cores e temperatura dos alimentos.^2[^4][^5]
Fatores que influenciam a seletividade alimentar incluem:
- Aspectos sensoriais: texturas (1º lugar), aparência/cor (2º lugar), sabor (3º lugar), cheiro (4º lugar) e temperatura (5º lugar)^6
- Necessidade de rotina e previsibilidade: mudanças no prato, marca ou forma de preparo podem gerar desconforto^7
- Ambientes estimulantes: ruídos e excesso de estímulos podem interferir nas refeições^7
- Comportamentos repetitivos: utilizados para autorregulação durante as refeições^7
Deficiências Nutricionais Comuns
Crianças com TEA apresentam maior risco de deficiências nutricionais devido aos padrões alimentares restritivos. As deficiências mais frequentemente observadas incluem:^8
Vitaminas: B1 (tiamina), B3, B5, B6 (piridoxina), B9 (ácido fólico), B12 (cobalamina), A, C, D e E^10^12
Minerais: cálcio, ferro, zinco, selênio, magnésio e fósforo^9^10
Outros nutrientes: proteínas, ácidos graxos ômega-3 e fibras alimentares^8
Estas deficiências podem resultar em comprometimento do crescimento e desenvolvimento, maior risco de doenças, problemas ósseos, déficits sociais e baixo desempenho acadêmico.^3
Problemas Gastrointestinais Associados
Estudos indicam que crianças com autismo têm mais de 3,5 vezes mais chances de apresentar problemas gastrointestinais comparadas às neurotípicas. Os sintomas mais comuns incluem:^13
- Constipação (prisão de ventre)
- Diarreia
- Refluxo gastroesofágico
- Dor abdominal
- Gases e distensão abdominal
- Disbiose intestinal^14^13
Estes problemas podem estar relacionados à alimentação pobre em fibras, baixa ingestão de água, sedentarismo ou uso de medicamentos. A síndrome do intestino permeável, caracterizada pelo aumento da permeabilidade intestinal, também é frequentemente associada ao TEA.^14
Estratégias de Intervenção Nutricional
Abordagem Alimentar Natural
A base da alimentação saudável para crianças com TEA deve priorizar:^16
Alimentos recomendados:
- Frutas e vegetais frescos (2-3 porções diárias)
- Cereais integrais
- Leguminosas (feijões)
- Proteínas magras (peixe, frango, ovos, tofu)
- Gorduras saudáveis (azeite, oleaginosas)
- Laticínios (quando tolerados)
Alimentos a evitar:
- Ultraprocessados ricos em açúcar e aditivos
- Conservantes, corantes e adoçantes artificiais
- Pesticidas e organismos geneticamente modificados
- Glutamato monossódico (MSG)
- Excesso de açúcar refinado^18
Estratégias Práticas para Pais e Cuidadores
1. Introdução Gradual de Novos Alimentos^4
- Começar com pequenas porções similares aos alimentos preferidos
- Aumentar gradualmente a quantidade e diversidade
- Combinar três alimentos conhecidos com um novo^20
- Não forçar a ingestão, permitir apenas o contato visual inicial
2. Criação de Ambiente Positivo^4
- Estabelecer horários fixos para refeições
- Manter ambiente tranquilo, sem distrações (TV, celular, tablets)
- Realizar refeições em família quando possível
- Tornar o momento prazeroso, sem pressões ou punições
3. Envolvimento da Criança^19
- Incluir a criança no processo de escolha e preparo dos alimentos
- Permitir que ajude a lavar, cortar ou cozinhar
- Deixar que escolha utensílios e pratos
- Incentivar a servir-se sozinha, mesmo que derrame
4. Adaptações Sensoriais^6
- Variar formas, cores e apresentações dos alimentos
- Cortar alimentos em formatos divertidos (estrelas, animais)
- Oferecer diferentes texturas gradualmente
- Respeitar preferências sensoriais individuais
5. Uso de Reforço Positivo^5
- Elogiar tentativas de experimentar novos alimentos
- Evitar usar alimentos favoritos como chantagem
- Implementar sistemas de recompensa não alimentares
- Celebrar pequenos progressos
Dietas Especializadas
Dieta sem Glúten e sem Caseína (SGSC)
Esta abordagem envolve a eliminação de glúten (trigo, centeio, cevada) e caseína (leite e derivados). A teoria sugere que a degradação incompleta dessas proteínas produz peptídeos opioides que podem afetar o sistema nervoso central.^21
Benefícios relatados:
- Melhora na comunicação e linguagem
- Redução de comportamentos estereotipados
- Diminuição da hiperatividade
- Melhora da atenção e concentração^22
Importante: Esta dieta deve ser implementada apenas sob orientação profissional e quando há diagnóstico clínico de intolerância ou alergia.^23
Suplementação Nutricional
Devido às deficiências nutricionais comuns, a suplementação pode ser necessária:^24^12
Suplementos estudados:
- Probióticos: para restaurar equilíbrio da microbiota intestinal
- Ômega-3: importante para desenvolvimento e função cerebral
- Vitaminas do complexo B: especialmente B6, B12 e ácido fólico
- Vitamina D: associada à redução de irritabilidade e hiperatividade
- Magnésio: combinado com B6 para melhora da interação social
- Zinco e ferro: para corrigir deficiências comuns^25^26
Acompanhamento Multidisciplinar
O manejo nutricional do TEA requer uma equipe especializada:^27
- Nutricionista: avaliação nutricional e elaboração de planos alimentares
- Médico nutrólogo: prescrição de suplementos quando necessário
- Terapeuta ocupacional: trabalho com aspectos sensoriais da alimentação
- Fonoaudiólogo: desenvolvimento de habilidades motoras orais
- Psicólogo: apoio comportamental e familiar
A Sociedade Brasileira de Pediatria enfatiza a necessidade de acompanhamento individualizado, ressaltando que o tratamento adequado não é a medicalização, mas sim a avaliação de cada paciente em seu contexto específico.^23
Marco Legal
Em 2025, foi aprovado o PL 4262/2020, que garante terapia nutricional gratuita para pessoas com TEA, especificando ações de cuidado e proteção relacionadas à alimentação, realizadas por profissionais qualificados. Este avanço representa um importante marco para assegurar o direito à nutrição adequada para indivíduos com TEA.^28
Considerações Finais
A alimentação de crianças com TEA exige paciência, compreensão e estratégias adaptadas às necessidades individuais. É fundamental compreender que a recusa alimentar não é "birra", mas uma forma de comunicação e proteção da criança. Com intervenções adequadas, apoio profissional e ambiente familiar acolhedor, é possível ampliar a aceitação alimentar e garantir uma nutrição equilibrada, promovendo melhor qualidade de vida e desenvolvimento para crianças com TEA.^27^4
[^5]: https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/bitstream/123456789/8373/1/TCC MANUELLA (1).pdf
[^44]: https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/56644/1/ASPECTOS ALIMENTARES E NUTRICIONAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (1).pdf
[^52]: https://educa.campinas.sp.gov.br/sites/educa.campinas.sp.gov.br/files/2023-06/Ebook - Alimentação Infantil e Seletividade Alimentar_1.pdf
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